sábado, 17 de dezembro de 2011

Sobre minha infância - Minha mãe, eu e o TPB



Falar da minha infância em geral é difícil, minha memória me prega peças, o raciocínio se embaraça e eu até lembro de algumas coisas boas e me sinto fantasiando com elas além do que aconteceu na realidade, ou me vejo tentando dar valor demais a pequenos gestos que seriam "qualquer coisa" num contexto comum, porém eu fico tentando decorar bastante e valorizar o máximo possível... Em outros momentos lembro de coisas que realmente me machucaram e aí sinto que me perco nos pensamentos, tudo fica embaçado e confuso, sinto tristeza e vazio, e uma única pergunta me vem a mente: "Porque eu tive que passar por tudo isso e me tornar esse nada que eu sou hoje?"
Meu relacionamento com minha mãe sempre foi caótico, nebuloso, cheio dos mais variados conflitos desde que eu era muito pequenininha... Não me sinto a vontade pra falar a palavra "mãe" até hoje. Sobre ela posso enumerar alguns eventos traumáticos da minha infância:

  1. Nunca falava comigo com voz meiga e amigável
  2. Não me ajudava tanto quanto eu precisava
  3. Não me deixava fazer o que eu gostava
  4. Sempre pareceu emocionalmente fria comigo
  5. Nunca pareceu compreender meus problemas e preocupações
  6. Nunca era carinhosa comigo
  7. Não gostava que eu tomasse minhas próprias decisões (a não ser pra me ironizar ou hostilizar depois)
  8. Queria que eu deixasse logo de depender dela (crescesse, morresse ou sumisse)
  9. Não se importava com o que eu fazia desde que não perturbasse ela
  10. Sempre invadia minha privacidade (roubava meu diário e xerocava para me chantagear depois ou apenas pra me perturbar caçoando dos meus sentimentos, os ironizando de forma sarcástica ou ainda me interrogando sobre o que eu escrevia sobre ela, sobre o desamor dela por mim ou de como eu gostava da casa da minha avó. Geralmente ela me punia por isso, pelas coisas que eu falava sobre ela e me chamava de "ingrata imunda" pelo que eu escrevia me referindo a minha avó)
  11. Não gostava de conversar comigo
  12. Nunca sorria pra mim (a não ser com deboche)
  13. Não tendia a me tratar como bebê
  14. Não entendia o que eu queria ou necessitava
  15. Não deixava eu decidir minhas coisas (e quando eu decidia mesmo sem permissão, ela sempre desdenhava, colocava defeito ou tentava me colocar em dúvida)
  16. Sempre me fazia sentir que não era querida
  17. Nunca me fazia sentir melhor quando estava triste (ela aparecia com cara de deboche e me mandava procurar "a santa da minha avó")
  18. Não conversava comigo
  19. Não tentava me fazer dependente dela mas gostava de me manipular, me usar pra seus próprios interesses e me coagir
  20. Sentia que seria melhor pra mim se ela não estivesse por perto
  21. Não me dava a liberdade saudável que eu precisava
  22. Não me deixava sair (e quando deixava era pra me chantagear e "trocar favores")
  23. Não era superprotetora comigo (fazia apenas sua obrigação de "mãe" pra evitar brigas com meu pai)
  24. NUNCA me elogiava ( claro que usava os adjetivos positivos pra ironizar e me hostilizar)
  25. Não deixava eu me vestir como eu queria e quando permitia que eu escolhesse minhas roupas, tripudiava e me fazia sentir feia alegando que tais roupas só ficavam boas em meninas bonitas.
Estas 25 questões, respondidas por mim, fazem parte do Parental Bonding Instrument (Mother), que lista várias atitudes e comportamentos dos pais na forma como o paciente se lembra destes até os 16 anos de idade. Este teste foi retirado da Tese de Doutorado - Fatores ambientais e vulnerabilidade ao TPB - apresentada pelo Dr Sidnei Samuel Schestatsky da UFRS.

Um comentário:

Unknown disse...

Vi que tu sublinhaste algumas coisas... Tem um número de cut-off pra itens marcados? E o que significa, conforme o nro de itens destacados? (fiquei curiosa)
.
Complicado se sentir assim, né? Eu imagino que a mágoa seja mesmo imensa, e a dor impossível de ser superada. Eu tive alguns problemas com minha mãe, porém, não por falta de carinho, e sim pela falta de liberdade e privacidade, e por ela tentar ajudar demais, e às vezes acabar piorando as coisas, mas, FELIZMENTE, não conheço essa sensação de abandono que pareço ver em ti, pelo texto. Sei que deve ser difícil imaginar uma reaproximação com a tua mãe, mas POR QUE NÃO TENTA FALAR COM ELA sobre tudo isso? Afinal, um dia, ela vai morrer, e, por pior que ela tenha te feito sentir, enquanto ela estiver viva, ainda dá pra tentar mudar algumas coisas! A figura materna te faltou qd tu mais precisou, mas será q não dá pra ter um pouco dela AGORA?? (não leva a mal, é que eu sou coração mole, eu gostaria de te ver encontrar essa acolhida...)

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