sábado, 31 de dezembro de 2011

Um dia nebuloso...

"Tenho andado confusa e sem saber que rumo seguir.
Será que o caminho a ser percorrido é o caminho certo?
Será que existe o certo?
Entender a verdade por trás das entrelinhas transborda,
Sufoca a ideia de saber que o bem está subentendido no vazio.
Percorrer a verdade em meio ao caos,
Perdendo a essência do ser e existir.
Quem disse que sentir é pra dentro?
No meu caso sinto pra fora,
Com sangue e ferida que nunca se fecha.
Aonde chegar se não se sabe aonde vai?
Esquecer quem é, tentando ser algo incoerente,
Analisando o lado esquerdo sem entender direito.
Como se saber fosse fácil."


O dia 30 não foi fácil, acordei estressada, fiquei o dia inteiro raivosa, irritada, com os nervos a flor da pele e as respostas sarcásticas e agressivas na ponta da língua. Todos os lugares que eu fui estavam cheios, e tanta gente por todo lado só me irritou mais. Em todos os lugares onde tenho a sensação de "não estar no controle", fico angustiada, com medo, insegura... E tudo isso se reflete nesse modo mais primitivo de se defender, que é atacar. 


Falei mais do que devia e por consequência, ouvi mais do que podia suportar, como sempre... Por mais que alguém tente entender o que se passa na minha cabeça, a tentativa falha em algum momento e o que eu ouço são as queixas, as cobranças... tudo sendo jogado na minha cara e aumentando ainda mais minha dor...


Sinto-me uma criança que tem vontade de brincar trancada no quarto não importando o dia de sol que faça lá fora, simplesmente porque aqui dentro é o meu mundo e por mais sombrio que ele seja eu aprendi a fazer de tudo que me machuca minha companhia, as exigências das pessoas lá de fora fazem eu me sentir impotente, "anormal"... 


E o pior de tudo... o pior de tudo, eles acreditam que é escolha minha estar trancada aqui dentro...




quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Frágil

Quando li estas palavras pela primeira vez, fiquei paralisada, pasma, emocionada... Cada palavra parece que foi sentida e escrita por mim mesma. Me admira quando alguém escreve o que eu sinto com profunda exatidão...




Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.

(Caio Fernando Abreu)




"Acompanha-me a casa
Já não aguento mais
Deposita na cama
Os meus restos mortais
Frágil
Sinto-me frágil
Frágil
Esta noite estou tão frágil."

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Raiva da Solidão, Medo do Abandono

Existe dentro da minha alma uma raiva da solidão tão grande que chega a ser incontrolável. A solidão gera meu sofrimento, o medo do abandono me faz perder o controle e me sentir desesperada. É como olhar para o horizonte e avistar apenas a árvore negra tortuosa. O frio me arrepia, o silêncio invade, o cérebro combina idéias, os olhos se banham em uma melancolia irritante. A tristeza invade a alma e não mais sai. Os pensamentos se tornam movimentos de elétrons e saem como faíscas no fio não recapado. São breves e incômodos, leves e autônomos… Impossível prever a reação da alma diante dos fatos rotineiros que machucam e que acabam cegando. Cegam por dentro, pois a visibilidade é a mesma, a interpretação é que se torna fria e distante. A solução é me unir ao que tanto odeio, pois acaba sendo a minha única companhia. Mesmo que eu não queira, acabo querendo por obrigação do ser pensante por detrás desse tolo ser. Minha dor escondida a 7 chaves vai lentamente se perdendo no meu interior. Ela invade e não pede licença, ela faz maldades e se diverte, se alimenta...



segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

É preciso viver um sonho



É preciso viver um sonho
E ter a certeza de que tudo vai mudar
É necessário abrir os olhos
E ver que as coisas boas
Estão dentro de nós.


Onde os desejos não precisam de razão
Nem os sentimentos de motivos.
Adoro-te não pelas coisas que você faz,
Nem pelo o que você é,


E sim pela a sensibilidade plena
Que o torna um ser especial
Em um mundo cheio de coisas
Tão comuns...


O importante é viver o momento e
Aprender com a sua duração
Porque a vida está nos olhos de
Quem sabe viver!


Por isso viverei intensamente cada minuto
Como se fosse o último.


A vida é muito especial,
Há tanto pra se fazer, aprender e por fazer aos outros
Que certamente, vale a pena viver ainda que seja para apenas ver um sorriso brotar no rosto de uma criança.


Apesar de todas as complicações que encaro dia após dia, ainda tenho a alma e sonhos de criança para cantar canções de esperança.


> O ano novo se aproximando me faz repensar e encarar a vida de maneira mais otimista, fazer novos planos e comemoras as pequenas vitórias. 

>> Por falar em viver um sonho, agora eu escrevo um outro blog, também sobre o TPB, mas numa outra abordagem. Lá eu falo sobre meu cuidador e sobre o passo a passo desta lenta e desafiante evolução no caminho do meio ao lado de alguém que dá fim ao meu vazio e que está comigo tanto nas calmarias quanto nas tempestades.

domingo, 25 de dezembro de 2011

(In)Feliz Natal





Todos os anos eu fico muito apreensiva com a chegada das "festas de final de
 ano", já há algum tempo eu venho colecionando amargas desventuras a cada 24 e 25 de dezembro. A data "máxima da cristandade" me deixa tensa, ansiosa, me sentindo completamente invadida e me forçando a criar, ensaiar e manter um personagem que me permita participar das festividades hipócritas e trocar sorrisos amarelos com um monte de gente que sequer lembrou ou tomou conhecimento da minha existência nos quase 360 dias anteriores a este "evento familiar". 

Pela primeira vez me permiti ficar longe das críticas e opressão dos meus pais, pela primeira vez em muito, muito tempo eu não fiquei na casa deles... Pensei que seria muito bom pra mim, mas como tudo que acontece na minha vida, teve um lado bom e um outro lado pior ainda. Sinceramente, depois de tudo que aconteceu, acho que preferia estar na casa dos meus pais, enfrentando meus antigos fantasmas outra vez, pelo menos lá os inimigos são conhecidos de longa data, mas o que eu consegui foi criar uma nova ferida em meio a tantas já existentes e não espero que ninguém me entenda ou concorde comigo, simplesmente quem não sabe como é estar neste assombro claustrofóbico que me cerca não pode opinar ou pelo menos não deveria, somente quem vive aqui dentro sabe como é frio e solitário.

Eu me precipitei, fui pra um lugar e não estava preparada pro que aconteceria lá, me senti mais uma vez diminuída, me senti mais uma vez dando vida ao personagem que convive com muitas pessoas ao mesmo tempo e disfarça o caos que isso gera com sorrisos e conversa fiada. Mas, fui atacada mais uma vez e como dói ter que controlar minhas respostas e atitudes de auto defesa em prol de alguém que muitas das vezes nem está se dando conta do meu esforço. Mas ainda assim, tentei controlar a onda como deu, respirei fundo, tentei segurar com uma frágil linha o touro ensandecido que habita aqui dentro de mim e me esforcei muito pra controlar meu sistema de sarcasmo ou agressão física à "mulherzinha" que me provocou, medidas essas que não me livraram de uma "mini-crise" em forma de DR, nem dos tremores, nem da dor de cabeça, nem da vontade de chorar e sumir...

Quero organizar o pensamento e descrever o que aconteceu em mais um (in)feliz natal da minha encarnação borderline, mas hoje não... a raiva ainda está circulando pelas minhas veias, daí eu mordo meus lábios por dentro, o coração dispara a cabeça vai a mil e eu me perco de mim mesma. Por hoje, me serve este desabafo, assim como disse Arjuna à Krishna no Bhagavad Gita: 

 " Pois a mente, ó Krishna, é inquieta, turbulenta, obstinada e muito forte, e a mim me parece que subjugá-lá é mais difícil que dominar o vento"

O dia hoje (a caminho de casa) foi triste e cinza, mais uma briga, mais uma crise, mais uma ferida, mais uma sensação pungente de derrota e impotência. Estou cansada de dar tantas voltas no mesmo carrossel mal assombrado de sempre. Meu corpo pode ser de mulher, meu diploma universitário pode comprovar minha idade cronológica, minha cara amarrada pode intimidar, mas o que ninguém vê, o que ninguém sabe é que aqui dentro deste corpo ainda vive uma garotinha, uma criança medrosa, frágil e insegura que deixou de brincar boneca e que agora brinca de pique-esconde no mundo real onde ninguém entende a brincadeira de se esconder do mundo pra proteger a si mesma.
Ser borderline dói apesar de as pessoas pensarem que ser borderline só machuca aos outros... Ser borderline dói!


sábado, 24 de dezembro de 2011

Além dos Limites (Borderline)




Li algumas críticas falando muito bem deste filme, outras diziam que o filme tratava os borderlines apenas como pervertidos sexuais e beberrões. Não assisti ainda pra dar a minha pitada de opinião, mas fala do TPB e eu vou assistir, pelo trailer acho que vou gostar... Gostei muito da música de fundo, "Can You Hear Me" do Christian Marc Gendron, e de algumas cenas em especial... Vou assistir neste feriado de Natal. Deixo aqui o link pra quem se interessar, visto que, foi muito difícil encontrar este filme.


Titulo Original: Borderline
Título no Brasil: Além dos Limites
Ano de Lançamento: 2008
Gênero: Drama
Música: "Can You Hear Me" from Christian Marc Gendron
Duração: 1H 50 Min
Tamanho: 696 Mb / 358 Mb

Sinopse: A história de Kiki é mostrada em diferentes fases de sua vida. Com a mãe internada, ela é criada pela avó, que não se preocupa com ela. Seu refúgio é a escola. Sua vida antes dos 30 está bem longe de ser um conto de fadas. Ela se envolve com diversos homens, um após o outro. Sexo e álcool são suas únicas saídas e sua rotina. Mas aos 30 anos, Kiki enfrenta o maior de todos os desafios: aprender a amar a si mesma. Adaptação dos romances Borderline e La Brèche, da canadense Marie-Sissi Labrèche.
Um drama erótico sobre uma mulher enfrentando seu aniversário de 30 anos, que olha para sua vida crescendo com a avó, a mãe louca e seu excesso de indulgência com os homens, sexo e álcool.



Trailer de Borderline - Além dos Limites




quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

As luzes de Natal estão piscando.

Meus dias tem me feito sentir como uma panela de pressão sem válvula de escape... Sinto tudo muito intensamente sempre, seja bom ou seja ruim. Eu tomo quando necessário pra me acalmar e me fazer dormir o Rivotril (clonazepam) 5 mg e sibutramina 10mg pra me livrar de comer compulsivamente, o que seria completamente inconveniente pra minha profissão.  Não os tomo diariamente, odeio a ideia de escravidão a um fármaco.

O passado é uma tortura, não consigo me livrar dele, muitas das vezes assuntos atuais acabam colidindo com alguma coisa do passado, e é sempre angustiante e doloroso. Meu mal maior é o ciúme, é patológico, é doente, é ilógico, e é completamente absurdo. As ligações do presente com o passado que eu crio na minha mente são apenas formas de me machucar mais, como se fosse um mecanismo incontrolável, eu preciso sentir dor. Acho que é assim que eu me mutilo, me firo e me destruo... em pensamentos. Não é necessário um caco de vidro, faca ou qualquer outro objeto pra me punir, diminuir e me fazer sangrar dolorosamente, a arma está em mim, a arma são os meus pensamentos que atuam contra a minha própria integridade. E é muito lamentável, ter insights que me mostram tudo isso e ainda assim, ser tão impotente enquanto todos a minha volta acreditam que eu faço isso por querer, pra me fazer de vítima, por vício e por pura vontade. Nossa doença é cinza e fria, não desperta a piedade de ninguém, só desperta o preconceito e conceitos estereotipados, pra eles somos "pavio curto", "cabeça quente", "eternas vítimas", "rancorosos" e etc, etc e etc... O que eles não sabem é o que passamos e sofremos por sermos assim. É uma grande injustiça quando dizem que o TPB afeta mais quem está em contato com o pessoa portadora do transtorno que o próprio paciente, quem diz isso não sabe o que é viver no olho do furacão como nós vivemos.

Quanto ao Natal que se aproxima, ele me desperta uma grande revolta pelo seu caráter consumista e hipócrita. Mas ainda assim, eu gosto de ver as árvores de Natal piscando, gosto dos enfeites, acima de todos os anjinhos e os bonecos de neve. E por trás desse perfil capitalista todo, eu ainda vejo uma pontinha de sonhos e esperança, isso me agrada, deve ser a parte de mim que não cresceu e que em algum lugar ainda está esperando dar meia noite pra ver o que o Papai Noel trouxe. Acho que essa é minha marca maior, a indecisão. Tenho mais de uma opinião pra quase tudo e isso muitas das vezes me confunde e me consome. Tenho saudade da criança que eu não fui e ainda me pego imaginando realidades paralelas, "como teria sido se..." e o Natal aumenta isso em mim. É uma época difícil...




terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Meus pais não deveriam ser pais.




Meus pais não me tratam feito gente. Pra eles eu sou uma perdida, embora não use drogas e nem beba frequentemente, embora seja mais caseira que eu caracol, embora me mate pra trabalhar, estudar e etc. Não sei em que mundo das cavernas eles vivem, mas eu não consigo ser o que a ignorância deles deseja pra mim. Eu não devo ter vontades próprias, devo servir a um marido com dinheiro (amor? ahh isso é idiotice segundo eles), devo servir a minha filha como um cão fiel, aliás eles acham um absurdo qualquer ensinamento que eu dê, e não toleram que eu não seja crente feito eles. Crer no deus deles pra que?! Pra hostilizar, ferir, magoar, diminuir, comparar, ridicularizar, impor metas inalcançáveis, oprimir, invadir a privacidade, abandonar na hora da adolescência, não oferecer ensino superior por pura vingança?! Pra quê? O que me motivaria ser igual a eles?!

 E eu não aguento mais lidar com isso, cansei de fazer de tudo pra viver num clima ameno com eles, cheguei a conclusão de que não preciso deles pra nada na vida com a idade que tenho, se eu já me rastejei por todos esses anos até aqui, não é agora que farei questão da ajuda, apoio, reconhecimento ou qualquer coisa que seja, da parte deles. Nem todo mundo serve pra ser pai e mãe, pronto é isso! E eles, só foram pais por um erro cósmico qualquer. Não tenho porque me torturar mais do que já fui torturada a infância e a adolescência toda por eles, sempre com suas exigências acima do normal que me fazem sentir um verme, uma bosta, uma coisa nenhuma, chega da falta de amor sincero, chega da troca hipócrita de favores, chega de me matar pra alcançar um "nível" que eles desejam só pra ver eles satisfeitos, sendo que, quanto mais eu subo, mais íngreme se torna a subida das exigências deles, chega de vê-los sorrir pra mim quando os compro com algum almoço, presente ou um truque de adestramento que eu, feito um cão, exibo pra eles. Vou me afastar deles pra manter minha saúde mental e física, pelo menos o mínimo que eu posso. Vou me afastar, acabar com os comportamentos estereotipados da filhinha idiota que não cresce e quer agradar, afastar minha filha do domínio deles, porque é visível que ela é outra comigo quando está com eles ou quando retorna de uma longa temporada na casa deles.  Quer saber? Que se danem! Que envelheçam mais a cada dia, se danem e morram! E que não contem com a minha ajuda pra nada na velhice deles, mais iminente a cada dia que passa. Agora que eu sei o que eles fizeram comigo, eles não vão mais continuar! Não vão...


(Jeremy - Pearl Jam)



segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Nervos a flor da pele

Tenho andado com o humor bastante variável, de alegre a raivosa. De tempos em tempos eu tenho crises de mergulhar de encontro a tudo que já me machucou um dia, reviver dolorosamente o passado e sentir a raiva com a cobrança dos juros, e estou nesse processo agora. Relembrando e revivendo toda a raiva, tristeza, frustração, decepção que já passei antes, mas que nunca me abandonam. A frustração está sempre aqui, tudo que me causa dor está sempre aqui, dentro de mim, do meu peito e este sangra e dói sem que o tempo passa agir anestesicamente, o tempo não alivia a dor, nunca!

Outra coisa que tenho percebido é que estou muito antisocial ultimamente, as pessoas me irritam, pessoas agindo de forma mal educada me irritam profundamente, tenho vontade de mandá-las calar a boca, tenho vontade de me livrar de todas elas. Lugares cheios me incomodam muito, ver a forma como as pessoas lidam umas com as outras, sempre querendo se dar bem, sempre querendo passar por cima do direito das outras, sempre querendo dar um "jeitinho", me deixa muito irritada. Celulares com alto falante estão na moda e fones de ouvido pelo jeito não, dessa forma a educação passou a ser artigo de luxo, e as pessoas andam de transporte público ouvindo música alta com esses tais celulares, e isso me deixa fula de raiva. Esse é só um pequeno exemplo. Não suporto essa coisa de:  "se dar bem burlando a lei e se favorecendo a qualquer custo", isso me deixa extremanente furiosa. Então, evito sair de casa, evito os locais públicos ainda mais nesta época de Natal, onde qualquer lugar mais parece um formigueiro de tão cheio, mas por outro lado, isso me entedia, porque me deixa trancafiada em casa.

É um transtorno difícil, é uma vida bastante desafiadora... mas eu acredito verdadeiramente em dias melhores. Por isso o vídeo aí embaixo, essa música me faz sentir bem, aliás, tudo que envolve meu trabalho, tude que envolva música me faz sentir bem, ainda mais músicas com vibrações positivas ou alto astral contagiante.


True Believer

Estou aqui agora por causa de você
Você é a razão de eu fazer o que faço
Como o fantasma quando você me chama eu estarei ali
Sempre que estou perto de você não devo temer

Por causa de você
Isto é o que eu faço
(vamos lá, vamos)
Por causa de você
Eu sou um verdadeiro acreditador

Sou um verdadeiro acreditador
Estou com você através da noite
Você é minha inspiração na vida
Sou um verdadeiro acreditador
Então não deixe de lutar
Você é minha inspiração na vida

Me dê, me dê tudo que tem
Você e eu podemos chegar no topo
Como dois super-herois nós podemos salvar o dia
Deixe a música nos levar a algum lugar distante

Por causa de você (Apenas de você)
Isto é tudo que eu faço (que eu faço)
(vamos lá, vamos)
Por causa de você
Sou eu verdadeiro acreditador

Sou um verdadeiro acreditador
Estou com você através da noite
Você é minha inspiração na vida
Sou um verdadeiro acreditador
Então não deixe de lutar
Você é minha inspiração na vida

Sou um verdadeiro acreditador
Estou com você através da noite
Você é minha inspiração na vida

sábado, 17 de dezembro de 2011

Sobre minha infância - Minha mãe, eu e o TPB



Falar da minha infância em geral é difícil, minha memória me prega peças, o raciocínio se embaraça e eu até lembro de algumas coisas boas e me sinto fantasiando com elas além do que aconteceu na realidade, ou me vejo tentando dar valor demais a pequenos gestos que seriam "qualquer coisa" num contexto comum, porém eu fico tentando decorar bastante e valorizar o máximo possível... Em outros momentos lembro de coisas que realmente me machucaram e aí sinto que me perco nos pensamentos, tudo fica embaçado e confuso, sinto tristeza e vazio, e uma única pergunta me vem a mente: "Porque eu tive que passar por tudo isso e me tornar esse nada que eu sou hoje?"
Meu relacionamento com minha mãe sempre foi caótico, nebuloso, cheio dos mais variados conflitos desde que eu era muito pequenininha... Não me sinto a vontade pra falar a palavra "mãe" até hoje. Sobre ela posso enumerar alguns eventos traumáticos da minha infância:

  1. Nunca falava comigo com voz meiga e amigável
  2. Não me ajudava tanto quanto eu precisava
  3. Não me deixava fazer o que eu gostava
  4. Sempre pareceu emocionalmente fria comigo
  5. Nunca pareceu compreender meus problemas e preocupações
  6. Nunca era carinhosa comigo
  7. Não gostava que eu tomasse minhas próprias decisões (a não ser pra me ironizar ou hostilizar depois)
  8. Queria que eu deixasse logo de depender dela (crescesse, morresse ou sumisse)
  9. Não se importava com o que eu fazia desde que não perturbasse ela
  10. Sempre invadia minha privacidade (roubava meu diário e xerocava para me chantagear depois ou apenas pra me perturbar caçoando dos meus sentimentos, os ironizando de forma sarcástica ou ainda me interrogando sobre o que eu escrevia sobre ela, sobre o desamor dela por mim ou de como eu gostava da casa da minha avó. Geralmente ela me punia por isso, pelas coisas que eu falava sobre ela e me chamava de "ingrata imunda" pelo que eu escrevia me referindo a minha avó)
  11. Não gostava de conversar comigo
  12. Nunca sorria pra mim (a não ser com deboche)
  13. Não tendia a me tratar como bebê
  14. Não entendia o que eu queria ou necessitava
  15. Não deixava eu decidir minhas coisas (e quando eu decidia mesmo sem permissão, ela sempre desdenhava, colocava defeito ou tentava me colocar em dúvida)
  16. Sempre me fazia sentir que não era querida
  17. Nunca me fazia sentir melhor quando estava triste (ela aparecia com cara de deboche e me mandava procurar "a santa da minha avó")
  18. Não conversava comigo
  19. Não tentava me fazer dependente dela mas gostava de me manipular, me usar pra seus próprios interesses e me coagir
  20. Sentia que seria melhor pra mim se ela não estivesse por perto
  21. Não me dava a liberdade saudável que eu precisava
  22. Não me deixava sair (e quando deixava era pra me chantagear e "trocar favores")
  23. Não era superprotetora comigo (fazia apenas sua obrigação de "mãe" pra evitar brigas com meu pai)
  24. NUNCA me elogiava ( claro que usava os adjetivos positivos pra ironizar e me hostilizar)
  25. Não deixava eu me vestir como eu queria e quando permitia que eu escolhesse minhas roupas, tripudiava e me fazia sentir feia alegando que tais roupas só ficavam boas em meninas bonitas.
Estas 25 questões, respondidas por mim, fazem parte do Parental Bonding Instrument (Mother), que lista várias atitudes e comportamentos dos pais na forma como o paciente se lembra destes até os 16 anos de idade. Este teste foi retirado da Tese de Doutorado - Fatores ambientais e vulnerabilidade ao TPB - apresentada pelo Dr Sidnei Samuel Schestatsky da UFRS.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Relação Mãe - Bebê e o TPB (parte I)


A psicanálise desde sempre insistiu que a forma pela qual o bebê e sua mãe interagem criaria dentro da mente do bebê a primeira representação interna, não apenas da outra pessoa (a mãe), mas da própria interação, isto é, representação de um relacionamento. Estas representações iniciais seriam críticas para o subsequente desenvolvimento da criança. A interação ocorre nos dois sentidos, ou seja, o modo como o bebê interage com a mãe também influencia o comportamento materno para com ele. Um apego seguro com a mãe provavelmente permite desenvolver na criança conforto e segurança consigo mesma, além de confiança básica nos outros, enquanto que um apego inseguro deixaria a criança ansiosa e confusa.

Estudos cognitivos e neurobiológicos do desenvolvimento, é a de que o processamento das representações internas primitivas só pode ser induzido durante certos períodos críticos da vida da criança. Durante esses períodos, o bebê e seu cérebro em desenvolvimento precisam interagir com um ambiente suficientemente bom, se houver expectativas de que sua personalidade venha a se desenvolver satisfatoriamente (Kandel, 1999). Ao elaborar um modelo animal para o desenvolvimento do bebê baseado na observação das consequências da separação precoce (por 6 meses há 1 ano) de macacos recém-nascidos de suas mães, quando eles retornavam mais tarde a companhia de outros macacos, embora fisicamente saudáveis, mostravam-se emocionalmente devastados. Isolavam-se em um canto das jaulas, embalavam-se como crianças autistas, não interagiam, não lutavam.

Extraído de: Tese de doutorado UFRS Sidnei Samuel Schestatsky


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

As agressões emocionais na minha família x Natal

Minha infância foi marcada por maldade, tortura e crueldade exercidas velada e dissimuladamente. Esse tipo disfarçado de crueldade e maldade incluía toda espécie de chantagens emocionais, cerceamentos de liberdade, desrespeito, omissões e opressões que familiares dirigem uns contra os outros de forma surda, calada e, muitas vezes, socialmente irreprimível. Tais maus tratos jamais foram feitos de forma "clássica" e "franca". Aí ficaria muito fácil diagnosticar a dinâmica familiar deturpada. Minha mãe agia assim o tempo todo comigo e com minha irmã mais nova.
Eram incontáveis os números de comentários críticos, mordazes, amargos ou depreciativos, a presença de hostilidade, direta ou dissimulada e um nível muito alto de envolvimento emocional estressante. Agressões emocionais são aquelas que, independentemente do contacto físico, ferem moralmente

Eu cresci nesse panorama e esse meu mal estar fica mais evidente com a chegada do final do ano e do Natal, festa que parece esfregar famílias felizes na cara de quem não tem... Sempre me senti muito mal com a chegada do Natal, preferia que essa data hipócrita não existisse, pois me faz lembrar das vezes que minha mãe demonstrava um comportamento carinhoso (se é que se pode chamar algo tão nojento de carinho) na frente dos outros e me chamava de coisas carinhosas mas no fundo, no fundo tinha um tom de desprezo, deboche ou pouco caso, um olhar frio, distante.

Muitos dos meus medos, insegurança e não aceitação vem dessa época, eu sei disso... E tentar falar dessa época me deixa confusa, a memória falha, as emoções ficam à flor da pele e o raciocínio se perde, como se eu mesma estivesse me protegendo de lembranças tão dolorosas...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A verdadeira vida é vulnerabilidade.

As pessoas são duras. A vida as prepara para serem duras, porque as prepara para lutar. Lentamente, lentamente, elas perdem toda a delicadeza interior, tornam-se duras como rochas - e uma pessoa dura como rocha é uma pessoa morta. Ela só vive da boca para fora, não vive verdadeiramente.
A verdadeira vida consiste em delicadeza, vulnerabilidade, abertura. Não tenha medo da existência: ela cuida de você, ama você. Não é necessário lutar contra ela. A existência está disposta a lhe dar mais do que você pode pedir ou sequer imaginar. Mas a existência só poderá lhe dar se você for suave, delicado, vulnerável. Se você for poroso, ela entrará por todos os lados.

Seja poroso, seja aberto para a existência, sem medo. Não é preciso ter medo. Essa é a nossa existência - nós pertencemos a ela, ela pertence a nós.


Osho, em "Meditações Para a Noite


Esse texto não foi escrito especificamente pra uma borderline mas faz sentido, me faz encarar a dura e triste realidade da criança nada elogiada, agredida fisica e psicologicamente, pouco amada pela mãe e extremamente cobrada pelo pai (e é impressionante como sempre me senti mal por ter que dizer esta palavra tão pequena, evito ao máximo falar tal palavra, ela realmente me fere, me desperta uma raiva, uma sensação de injustiça, acho que até prefiro ser amiga da minha filha porque "mãe" se tornou um termo negativo e triste, muito triste. Quanto ao meu pai eu tenho a eterna sensação de estar fugindo dele, me escondendo, procurando sua aceitação e aprovação pras coisas que eu faço, como se ainda precisasse disso com a idade que tenho atualmente). Esse texto me faz sorrir aquele sorrisinho tímido de quem insite em ter esperanças, mas não sabe dizer ao certo esperança de que (pra que)?






"Eu faço meu pranto na chuva."



Em matizes de um mural, grafitei todo meu sonho.
Desvendei tantas auroras, tive um despertar risonho.
Nada disso me comove, sem você nada sou eu.
Céu se abre, mar se fecha, um sonho bom que morreu.


"Eu jamais te deixarei perceber
Como meu coração partido está me machucando
Eu tenho meu orgulho e sei como esconder
Toda a minha tristeza e sofrimento
Eu farei meu pranto na chuva."

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento.

Me sinto uma completa estúpida vivendo da forma como eu vivo, valorizando o que mais ninguém valoriza, tentando fingir que posso ignorar, fingir não ligar, desprezar, virar a cara e não estar nem aí... Por quantos malditos segundos eu consigo realmente agir assim? Durante quanto tempo eu finjo não ligar mas por dentro eu me remoo, me mordo e me torço de desespero, quando o que eu mais quero é gritar que me importo sim, que pra mim pequenas coisas importam sim, e muito! Que pra mim o sentimento ainda vale muito mais que qualquer outra coisa, que pequenos gestos, olhares, papeizinhos rabiscados, recados na geladeira, mensagens no celular e toda sorte de bobagens pra mim são fundamentais. Eu só queria que as pessoas valorizassem minhas demonstrações de afeto como eu valoro cada gesto afetivo que me faz deixar de ser o vulcão em erupção pra ser a menina sorridente que corre descalça no gramado vivo de uma tarde de primavera.
O problema é que ninguém dá real valor a isso e sempre que podem ainda tentam justificar seu pouco caso com o que realmente deveria ter valor com coisas superficiais, apelando pra uma lógica fria e normal. Mas o que seria normalidade?! Deletar um recado poético e romântico sem sequer clicar com o botão direito e copiar pro caso de dar algum erro no site? Tudo bem, eu disse que ia deletar e consertar o erro de digitação... Mas custava esperar a segunda publicação corrigida pra deletar a primeira? Custava fazer uma maldita cópia num maldito bloco de notas só pro caso de "dar merda" no site, como acabou dando?! Não, não... mais fácil é colocar a culpa em qualquer coisa que justifique não dar valor aos meus sentimentos nobres sendo tratados como qualquer coisa que possa ser reescrita, refeita como se eu fosse algo programável.  Tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. E o que dá mais raiva é  que alguns imbecis são capazes de guardar bilhetinhos mal escritos por anos e deletar uma poesia sem sequer fazer uma mísera cópia, mas como já dizia Cazuza, não adianta escrever poesia em papel higiênico e dar sentimentos nobres para que idiotas limpem o cú.
Sempre fico me perguntando porque quanto mais vadia e promíscua uma mulher é, mais os homens a idolatram. Tem horas que dá vontade de incorporar quantas pombas-giras me forem permitidas e sair por aí, sendo aquilo que os homens tanto adoram valorizar, uma puta! Mas não, meu pudor e minha maldita moral me fazem andar por aí feito uma palhaça, uma palhaça chorona que vive pedindo a atenção e que seus sentimentos nobres e idiotas sejam valorizados e tratados como tesouro. Eu faço de mim mesma uma verdadeira palhaça, um fiasco digno de vergonha!


Nota mental: Não posso tomar Predsin comprimidos, graças a esta maldita droga, estou pernoitada, mal humorada, com os nervos a flor da pele, rastejante como um bebê faminto e agressiva como uma cobra prestes a dar um bote.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Uma nova amiga.




Estou com uma crise de tosse terrível e preciso sair pra comprar um nebulizador, por isso hoje minha vinda aqui no Karmas e Monólogos Borderline tem um motivo especial, hoje quando abri minha caixa de email fui surpreendida com um email de uma pessoa que pensa como eu, sente como eu e sofre como eu sofro graças as dificuldades que o TPB nos impõe todos os dias. E agora eu tenho uma nova amiga, uma amiga border como eu, a Veronika que escreve o Transborderlines. Que dia após dia dança no campo minado e atravessa a corda bamba do que podemos ser e do que realmente somos. Com certeza trocaremos muitas experiências e contaremos uma com a amizade da outra. Na mochila, alguns artigos sobre o TPB que prometem render bons posts nos próximos dias.

Por hoje é só! Até logo!

sábado, 10 de dezembro de 2011

O ano vai chegando ao fim...

Com um turbilhão de emoções e pensamentos, com a vontade de gritar todos os meus temores e exorcizar todos os meus demônios, minha cabeça se confunde, o raciocínio se embaralha, fico confusa e difusa eu vou. Sou andarilha de mim mesma, entre tropeços e acertos, dançando no campo minado e seguindo na corda bamba...
Recolho-me em plena e intensa tristeza, em oráculo meu, a vida pensando e repensando! O ano vai chegando ao fim e a reformulação da minha vida se faz crucial, dentro de mim escuto vozes dizendo: " é AGORA!" Porém eu recuo, com medo do que pode estar me esperando na próxima esquina.  




quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sobrevivendo em meio a crise.


Estou sobrevivendo a uma série de crises ultimamente, infelizmente estou mergulhada num humor pessimista e sentindo uma grande preguiça pra iniciar qualquer projeto novo ou até mesmo dar continuidade aos já existentes. Quando estou assim, eu respiro fundo, durmo e procuro me envolver com coisas que me deixem feliz e me afasto das pessoas que costumam me ferir, ouço músicas que me joguem pra cima e espero a poeira baixar. Por enquanto é só o que posso fazer. O psiquiatra de ontem me deixou muito abatida e prostrada hoje... Como ele pôde descartar de cara a hipótese do TPB simplesmente porque nunca me cortei, queimei e por não ter uma ocorrência policial. Ele realmente pensa que os portadores de TPB são apenas criminosos e pessoas com potencial pra automutilação? Ele ignora todos os demais sintomas?! Sequer para pra analisar meus "sintomas" e minhas queixas de mais de 12 anos onde tudo acontece da mesma maneira, sempre as mesmas idealizações, sempre as mesmas frustrações, sempre a cisão, sempre a desvalorização do outro quando qualquer não era dito pra mim. Enfim... ele sequer quis me ouvir, me rotulou bipolar porque nunca andei numa viatura policial. Como pode ser tão limitado?



 Sintomas (claro que nem todas as Borderline tem todos estes sintomas):

  • Medo de abandono: uma necessidade constante, agoniante de nunca se sentirem sozinhas, rejeitadas e sem apoio.

  • Dificuldade de administrar emoções.


  • Impulsividade.

  • Instabilidade de humor. As oscilações de humor do DAB ou TAB - Distúrbio ou Transtorno Afetivo Bipolar duram semanas ou meses, mas as Borderline têm oscilações de minutos, horas, dias. Essas oscilações de humor incluem depressões, ataques de ansiedade, irritabilidade, ciúme patológico, hetero- e auto-agressividade. Uma paciente marca a consulta informando que está super deprimida, querendo morrer. No dia seguinte chega à consulta bem humorada, bem vestida, maquiada, vaidosa.


  • Comportamento auto-destrutivo (se machucar, se cortar, se queimar). As portadoras de Borderline dizem que se machucam para satisfazer uma necessidade irresistível de sentir dor. Ou porque a dor no corpo "é melhor que a dor na alma".

  • Tentativas de suicídio, mais freqüentemente as de impulso do que as planejadas.


  • Mudanças de planos profissionais, de círculos de amizade.

  • Problemas de auto-estima. Borderlines se sentem desvalorizadas, incompreendidas, vazias. Não tem uma visão muito objetiva de si mesmos.

  • Muito impulsivas: idealizam pessoas recém conhecidas, se apaixonam e desapaixonam de maneira fulminante.

  • Desenvolvem admiração e desencanto por alguém muito rapidamente. Criam situações idealizadas sem que o parceiro objeto do afeto muitas vezes nem tenha idéia de que o relacionamento era tão profundo assim...

  • Alta sensibilidade a qualquer sensação de rejeição. Pequenas rejeições provocam grandes tempestades emocionais. Uma pequena viagem de negócios do namorado ou marido pode desencadear uma tempestade emocional completamente desproporcional (acusações de rejeição, de abandono, de não se preocupar com as necessidades dela, de egoísmo, traição, etc).

  • A mistura de idealização por alguém e a extrema sensibilidade às pequenas rejeições que fazem parte de qualquer relacionamento são a receita ideal para relacionamentos conturbados e instáveis, para rompimentos e estabelecimento imediato de novos relacionamentos com as mesmas idealizações.

  • Menos freqüente: episódios psicóticos (se sentirem observadas, perseguidas, assediadas, comentadas).

Tudo que eu sublinhei eu tenho, eu sinto. Não por querer, não por ter escolhido ser borderline, não por achar que ter tal transtorno seja glamouroso ou motivo de orgulho... Eu sou borderline, talvez pelos frequentes maus tratos que minha mãe dispensava a mim, pela frieza e crueldade das palavras e dos castigos que ela me submetia, pelas vezes que me deixava trancada no quarto, me comparava as outras crianças, se desfazia das minhas demonstrações de carinho sempre respondendo "o que é você quer de mim pra ficar de falsidade?", pelas vezes que ela me disse que eu era tão ruim que nem a tentativa de me abortar tinha dado certo, por eu não recordar de nenhum momento de afago ou afeto, mas sim de todas as vezes que ela me chamava de "maldita", "desgraçada", "peste", "imunda" e tantas outras ofensas enquanto seu olhar pra mim era de desprezo ou nojo. Meu pai, era muito rígido e conservador, não havia agressão física da parte dele, mas havia a imposição de inúmeras regras inquebráveis, ele sempre foi inflexível.

Por hoje é só, começo a me sentir demasiadamente irritada com tudo que me cerca. Vou escutar uma música, jogar um jogo qualquer, comer...


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

De volta ao começo... De volta ao nada.

Hoje eu fui ao psiquiatra, depois de muito resistir a ideia, não é fácil depois de tantos anos seguindo um padrão, mesmo que tal padrão me faça sofrer, acordar e tomar consciência de que tenho um transtorno que me torna infeliz e afeta os que me cercam e assim como mágica, decidir ir passeando num psiquiatra.

Ele nitidamente, não gostou quando apresentei meus sintomas e minha suspeita em ser TPB, insistiu que eu era bipolar e hiperativa, ignorando totalmente a maioria dos sintomas TPB que eu possuo, alegou ainda que a internet dá nisso, em pessoas investigando de forma leiga as coisas, ainda rebati dizendo que faço parte de um grupo de pesquisa científica na faculdade e que atuo na área da saúde e que além disso,  não tinha consultado qualquer fonte pra localizar os textos sobre TPB, não li nada num lugar irrelevante, ou num site populista, disse que havia pesquisado em periódicos científicos que publicam pesquisas psiquiátricas, ele disse que nem ia perder o tempo dele olhando um texto de internet.
A consulta não durou mais que 30 ou 40 minutos e ele me definiu como bipolar  e hiperativa, pra ele a hiperatividade explicava minhas crises súbitas de raiva e me mantinha "viva" pra continuar seguindo meus projetos. Me prescreveu até um medicamento, Depakote 500 mg (ácido valpróico) e pediu pra eu fazer alguns exames depois de estar tomando essa substância por 7 dias no mínimo.



Sai daquele consultório me sentindo ridícula, esperei muito pela consulta, foi uma decisão difícil de ser tomada e resultou nisso. Ele disse que eu jamais seria borderline porque eu mesma procurei ajuda, porque eu mesma me "rotulei" borderline, que borderlines se auto-mutilam, se cortam e tentam se matar, e que, se eu não tenho cicatrizes de auto-agressão nem passagem pela polícia eu não poderia ser TPB. Disse a ele que trabalho em academia, que sou personal trainer e que jamais seria aceita em meu trabalho se tivesse marcas de auto-mutilação e que além disso, o corpo humano é o objeto de estudo da minha área e sendo assim, pra mim, não é tão simples me cortar como forma de punição, mas perguntei se ele não concordava comigo que, auto agressão nem sempre precisa ser física, pode ser muito além do corpo, pode ser emocional, pode ser psiquica, pode ser verbal e etc... Pra completar tudo isso, eu tenho uma filha e não quero traumatizar a menina com cenas chocantes de auto-destruição, mas que sim, já pensei em me matar algumas vezes, porém o fato de eu ter tido uma mãe monstruosa me faz ter a necessidade de ser uma mãe melhor, amável e carinhosa. Eu sou borderline, mas sou humana, consciente e tenho insights.
Mas ele não estava inclinado a conversar, queria apenas me convencer que eu era bipolar e hiperativa, que meu drama em recordar o passado e sofrer com ele como se fosse sempre presente é um mecanismo de "mania" e que eu apenas tinha coincidências com o TPB. E sempre se pautava no fato de que, borderlines só chegam a clínicas e hospitais quando levados pela polícia, quando presos ou respondendo processos judiciais, ou seja, ela só consegue encarar um borderline como um criminoso e não como um ser humano vítima de um transtorno.


Voltei a estaca zero. Preciso procurar outro médico e não é só isso, preciso me encorajar novamente. Porque ter uma doença que um médico simplesmente desconhece aumenta a sensação de despersonalização, aumenta a minha sensação de nada, de bizarrice...


Não vou tomar tal remédio, não sei o que ele poderá fazer comigo, não me identifico com os sintomas de bipolaridade e da hiperatividade apenas, falta muita coisa... As pessoas mais próximas a mim, principalmente meu namorado e meu ex-companheiro de 5 anos que tomou conhecimento do meu transtorno e ficou sabendo desse resultado no consultório médico, acharam um absurdo um médico chegar a uma conclusão tão drástica em tempo recorde. Bastaram uns 40 minutos pra ele saber com certeza que sou bipolar e hiperativa.

As justificativas que ele deu pra afirmar que eu não sou borderline se baseiam apenas numa visão preconceituosa e limitada do transtorno, pela ótica dele, todo borderline é um criminoso ou um suicida, se isso não acontece todos os demais sintomas devem ser desconsiderados e ignorados. O que mais me machuca nunca foi me cortar, o que sempre me machucou é esse imenso vazio que sinto, essa necessidade de atenção, esse medo de ser comparada com outras pessoas, as ideias de que todos estão tramando o pior pra mim, que o mundo é mau e que as pessoas são cruéis, a falta de confiança no que sou e no que faço, a necessidade de ouvir elogios, a necessidade de atenção constante, as opiniões extremas, a cisão, a instabilidade de humor, o ciúme patológico e todo o resto... Agora se ele acha que pegar um bisturi e cortar meu braço dói mais que tudo isso acontecendo ano após ano, a cada esperança renovada e perdida, ele realmente não sabe o que é dor.


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