quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

De volta ao começo... De volta ao nada.

Hoje eu fui ao psiquiatra, depois de muito resistir a ideia, não é fácil depois de tantos anos seguindo um padrão, mesmo que tal padrão me faça sofrer, acordar e tomar consciência de que tenho um transtorno que me torna infeliz e afeta os que me cercam e assim como mágica, decidir ir passeando num psiquiatra.

Ele nitidamente, não gostou quando apresentei meus sintomas e minha suspeita em ser TPB, insistiu que eu era bipolar e hiperativa, ignorando totalmente a maioria dos sintomas TPB que eu possuo, alegou ainda que a internet dá nisso, em pessoas investigando de forma leiga as coisas, ainda rebati dizendo que faço parte de um grupo de pesquisa científica na faculdade e que atuo na área da saúde e que além disso,  não tinha consultado qualquer fonte pra localizar os textos sobre TPB, não li nada num lugar irrelevante, ou num site populista, disse que havia pesquisado em periódicos científicos que publicam pesquisas psiquiátricas, ele disse que nem ia perder o tempo dele olhando um texto de internet.
A consulta não durou mais que 30 ou 40 minutos e ele me definiu como bipolar  e hiperativa, pra ele a hiperatividade explicava minhas crises súbitas de raiva e me mantinha "viva" pra continuar seguindo meus projetos. Me prescreveu até um medicamento, Depakote 500 mg (ácido valpróico) e pediu pra eu fazer alguns exames depois de estar tomando essa substância por 7 dias no mínimo.



Sai daquele consultório me sentindo ridícula, esperei muito pela consulta, foi uma decisão difícil de ser tomada e resultou nisso. Ele disse que eu jamais seria borderline porque eu mesma procurei ajuda, porque eu mesma me "rotulei" borderline, que borderlines se auto-mutilam, se cortam e tentam se matar, e que, se eu não tenho cicatrizes de auto-agressão nem passagem pela polícia eu não poderia ser TPB. Disse a ele que trabalho em academia, que sou personal trainer e que jamais seria aceita em meu trabalho se tivesse marcas de auto-mutilação e que além disso, o corpo humano é o objeto de estudo da minha área e sendo assim, pra mim, não é tão simples me cortar como forma de punição, mas perguntei se ele não concordava comigo que, auto agressão nem sempre precisa ser física, pode ser muito além do corpo, pode ser emocional, pode ser psiquica, pode ser verbal e etc... Pra completar tudo isso, eu tenho uma filha e não quero traumatizar a menina com cenas chocantes de auto-destruição, mas que sim, já pensei em me matar algumas vezes, porém o fato de eu ter tido uma mãe monstruosa me faz ter a necessidade de ser uma mãe melhor, amável e carinhosa. Eu sou borderline, mas sou humana, consciente e tenho insights.
Mas ele não estava inclinado a conversar, queria apenas me convencer que eu era bipolar e hiperativa, que meu drama em recordar o passado e sofrer com ele como se fosse sempre presente é um mecanismo de "mania" e que eu apenas tinha coincidências com o TPB. E sempre se pautava no fato de que, borderlines só chegam a clínicas e hospitais quando levados pela polícia, quando presos ou respondendo processos judiciais, ou seja, ela só consegue encarar um borderline como um criminoso e não como um ser humano vítima de um transtorno.


Voltei a estaca zero. Preciso procurar outro médico e não é só isso, preciso me encorajar novamente. Porque ter uma doença que um médico simplesmente desconhece aumenta a sensação de despersonalização, aumenta a minha sensação de nada, de bizarrice...


Não vou tomar tal remédio, não sei o que ele poderá fazer comigo, não me identifico com os sintomas de bipolaridade e da hiperatividade apenas, falta muita coisa... As pessoas mais próximas a mim, principalmente meu namorado e meu ex-companheiro de 5 anos que tomou conhecimento do meu transtorno e ficou sabendo desse resultado no consultório médico, acharam um absurdo um médico chegar a uma conclusão tão drástica em tempo recorde. Bastaram uns 40 minutos pra ele saber com certeza que sou bipolar e hiperativa.

As justificativas que ele deu pra afirmar que eu não sou borderline se baseiam apenas numa visão preconceituosa e limitada do transtorno, pela ótica dele, todo borderline é um criminoso ou um suicida, se isso não acontece todos os demais sintomas devem ser desconsiderados e ignorados. O que mais me machuca nunca foi me cortar, o que sempre me machucou é esse imenso vazio que sinto, essa necessidade de atenção, esse medo de ser comparada com outras pessoas, as ideias de que todos estão tramando o pior pra mim, que o mundo é mau e que as pessoas são cruéis, a falta de confiança no que sou e no que faço, a necessidade de ouvir elogios, a necessidade de atenção constante, as opiniões extremas, a cisão, a instabilidade de humor, o ciúme patológico e todo o resto... Agora se ele acha que pegar um bisturi e cortar meu braço dói mais que tudo isso acontecendo ano após ano, a cada esperança renovada e perdida, ele realmente não sabe o que é dor.


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