sábado, 18 de fevereiro de 2012

Sonho inútil, à esperança sem vestígios.



" Será que tudo nessa vida é um precipício que nos faz chorar? 
Salto para um rio de lágrimas."


Sou uma sinfonia de dor manchada de sangue, de todos os sonhos que eu tinha embrulhados em papel de seda dos sonhos, tudo se tornou cinza e frio... O vazio me cerca e me apavora. Já não tenho mais a ingenuidade pra acreditar num futuro melhor, tomei meu fardo e em silêncio me coloquei na estrada, emudecida de sons articulados, sendo atormentada pelos gritos e gemidos dos meus pensamentos.
Acreditei em ti, de tanto que acreditei me lancei às brumas da ilusão e caí, me despedacei... Talvez seja nebuloso demais pra qualquer ser entender o que se passa aqui dentro entre calmarias e tempestades violentas... Sinto o desânimo corroendo meus ossos feito câncer, sinto minhas verdades se esmaecendo diante dos meus olhos, sinto meus sonhos virando pó... 


Em meus mais belos sonhos de amor, segui rumo ao impossível dos homens, voei na direção dos astros do céu, contrariei minhas certezas, mergulhei no escuro... Trouxe pra ti embalado em papel-seda-dos-sonhos as mais brilhantes e luminosas estrelas do céu e depositei-as em tuas mãos... mãos reais, desprovidas da energia dos sonhadores, transformaram estrelas em areia... sombras de sonhos, cacos de ilusão.

Meu céu não te foi o bastante, todas as minhas mais puras verdades te soaram como mentiras. Meu amor, fraca chama, que não te levou a cuidar de mim, me proteger, me fazer sentir única. E logo eu, que só queria te fazer feliz, te dar asas, te guiar por terras distantes e desconhecidas, vestir você de alegria, despir-te de seus medos... 


Te dei tudo que havia de mais belo em meu mundo, te dei versos, rimas, prosa, sonhos infantis, sorrisos, emoção... meu coração. Eu quis te dar tudo, quis te mostrar tudo, queria que fosse diferente, forte e especial... Me lancei às brumas, joguei tudo aos ares só pra te seguir; Já não temia a escuridão, pois tua mão era meu guia e teu sorriso minha luz. 


Mas não importa o quanto entusiasta eu seja, sempre hei de sofrer, minha maldição é ter em meu peito este coração que insiste em bater, que se entrega por inteiro e morre aos poucos. 


Tu, ao contrário de mim, não segurou na cauda dos cometas, não se encantou com o brilho das estrelas, nem ouviu a melodia do mar, por isso não bailou... O que tu queres é apenas um laço com a realidade, com toda essa lógica fria, sinistra e desumana, desprovida da energia dos sonhos e das doces ilusões; Precisas me ferir no âmago, precisas tocar minhas feridas e fazê-las sangrar. Não bastaram os pedidos suplicantes para que compreendesses minhas fraquezas e limitações, meus olhos tiveram que ver a terrível realidade que eu não suporto. Não espera uma foto daquelas no meio das suas coisas... outra mulher, nua... E você dizendo que era apenas eu que te provocava os instintos mais sacanas. Tu me transformou numa qualquer, numa vadia sem amor próprio, como ela sempre foi. Suas mentiras e desculpas esfarrapadas sempre doeram e ainda doem...


As incontidas lágrimas doídas, inundam meu ser, encharcam minha camisa, e causam uma dor profunda e terrível no meu coração, e este choro abafado, doendo no fundo da alma é o reflexo do terremoto que me assolou... O que hei de ser? Uma sonhadora solitária, resto e cinzas de sonhos, a criança má que em vão espera seu presente de Natal... 


O sonho foi reduzido a desesperança, a magia manchada de preto... Mas eu seguirei, ainda que soluçante com meu coração livre de culpa... eu jamais deixei de confiar em ti; Jamais tive dúvidas, olhando nos seus olhos, se me querias bem ou mal. E graças a Deus por não ter sido eu a primeira a pincelar com tinta preta o que somos, o que poderíamos ser... 


Eis meu mal: amar demais as pessoas, dar-lhes meu céu pra voarem livremente, fazê-las escalar a mais alta montanha só pra que fique bem claro que são importantes e únicas. Eu sonho muito, fantasio muito a vida, me empolgo, me entrego demais... Preciso aprender a pisar com os dois pés no chão, preciso aprender a ser mais fria, preciso aprender a controlar minha emoção... e bem sei que prefiro a morte que viver maquinalmente! 


Recolho meus cacos... os cacos de um coração partido, sento neste trecho da estrada com os cotovelos sobre os joelhos e com o queixo nas mãos... penso que de nada vale a vida quando os sonhos são desfeitos, quando no lugar da fantasia fica a decepção... 


Por ora, sou apenas isso... lágrimas, soluços, desilusão e dor. Só em pensar no quanto você demorou pra aparecer em minha vida e ver as coisas tomando esse rumo, as lágrimas doem-me tanto que parecem minh'alma rasgando meu corpo numa fuga desesperada.


Minha única opção é aceitar o fardo que a vida me impôs com resignação, esperando um alívio (talvez), entendendo que minha cura não pode vir de fora (e por enquanto, nem de dentro). Já não acredito mais em nada, não mais nada para acreditar...



"Tenho que escolher o que detesto — ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a ação, que a minha sensibilidade repugna; ou a ação, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu. Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com outra.
Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou. Uma réstia de parte do sol, um campo, um bocado de sossego com um bocado de pão, não me pesar muito o conhecer que existo, e não exigir nada dos outros nem exigirem eles nada de mim. Isto mesmo me foi negado, como quem nega a esmola não por falta de boa alma, mas para não ter que desabotoar o casaco." Fernando Pessoa - o Livro do Desassossego



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