sábado, 21 de abril de 2012

Ódio

... E você aprenderá a não causar sofrimento falando mais do que devia.


Sinto o ódio exalando de cada poro, me inundando de uma necessidade urgente de causar dor e agonia a quem só mal me fez. O desejo de vingança vem e me toma de cheio e o mar que outrora era tranquilo e sereno agora é revolto e tempestuoso. As lágrimas que já derramei e as dores que eu já senti, tu terás também a oportunidade de experimentar, eu te garanto isso.


Avesso

Por te querer tanto
não mais te quero.
Por me fazer pranto
não mais espero.
Por te querer encanto
não mais me espanto.


Meu sentimento é avesso,
verso e reverso,
acolhimento e arremesso,
os dois lados da mesma moeda,
amor e ódio no mesmo endereço.


Te quero aqui
te quero distante
te recebo em meu leito
te vejo errante.


Aconchegada ao teu peito
te desejo amante
não te quero livre e saltitante
te almejo preso ao meu regaço
te encontro no tempo de um abraço.


Vá embora
Fique aqui
Não demora
Saia de mim.



Não sou masoquista, no entanto, as imagens me perseguem. Nosso amor sobrevive na carnificina da guerra, em meio a tiros e amputações. Fios elétricos se enroscam em meus sonhos. Pombas e corvos. No varal roupas brancas, pretas e alguns negativos queimados. 

Fico imaginando as pernas daquela vadia. A boca em desalinho. A câmera captando as imagens, as fotos dela, nua, nos seus e-mails, protegidas com a sua senha. Um tapa no meio assimétrico da minha cara. Às vezes, ele faz isso, mira no meio do rosto e enfia as duas mãos inteiras, ácidas na minha cara. Um abismo vermelho entre eu e ele. Ele dá gargalhadas quando percebe que meu riso se fecha. E eu tantas vezes perdida na inconveniência de suas mãos. Deixo-o falando sozinho, grito e bato as portas do meu desespero para abrir segundos depois, sempre em explosões cada vez maiores de ódio, tristeza e agonia. Ciclopes correm atrás de mim, me cercam, me mostram cordas fortes e longas: “Em terra de cegos, quem tem um olho é rei.”. Ando sem rumo, nas ruas as pessoas velam seus defuntos, algumas levam seus mortos nas costas. Tropeço em caixões. Os meus fantasmas são tão palpáveis, tão concretos, tão reais! Eles acabam riscando o brilho fosco dos meus sapatos. Algumas pessoas encostam-se a mim, pedem desculpas constrangidas. Que se fodam elas e seus constrangimentos. Por que não engolem suas desculpas? Seria mais fácil eu disfarçar minha cara de nojo e tédio. As buzinas me lembram aquela velha louca que não para de gritar, parece um rádio fora de estação. Um rio verde e calmo explode dentro de sua boca. Pequenos caranguejos devoram meu presente já morto. 

Já não sei o que é mais forte, a vontade de matar ou de morrer.

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