sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Arabescos

Eu queria matar toda ancestralidade nascida em mim
Queria lixar os vincos pegajosos do passado
os vestígios dos primeiros neandertais na minha arcada dentária
apagar as ranhuras das falsas costelas
arrancar inúteis apêndices - caruncho no meio da carne -
quebrar o fêmur em dois e inventar uma nova nomenclatura anatômica
tornar minha face uma massa amorfa e não mais reconhecê-la em termos de parentesco
não conhecer homônimos, torná-la primitiva, origem, alfa,
feto de degenerados, reduto de loucos,
torturá-la até desfazê-la, de sólida matéria sublimada.
cavá-la até o limite do tutano, apalpar seu magma, devorá-la,
faz~e-la máscara-carranca e finalmente nascer,
dissolvida, combinação aleatória e contemporânea de átomos de carbono.
livre da semelhança de Deus,
livre do peso incomodo da humanidade.  


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